Na Argentina caiu a lei “ómnibus”. Um triunfo popular!

8 de Fevereiro, 2024

Escreve Juan Carlos Giordano, diputado nacional eleito pela Izquierda Socialista/FIT Unidad

Assim que a notícia foi conhecida, a militância reunida na Praça dos Congressos explodiu de alegria, como em grande parte do país, com uma simpatia generalizada, como se viu com as buzinadelas e o bater de tachos e panelas. “Unidade dos trabalhadores, quem não gostar, que se lixe, que se lixe”, cantava-se. Não é de admirar. Sentimo-nos parte deste grande passo que foi dado.

O pedido de “passar à comissão” foi a forma elegante de o Governo tentar encobrir uma derrota retumbante, uma vez que tudo voltou à estaca zero. “A pesada derrota de Milei; Milei sem lei; O governo sofreu um duro revés”, são alguns dos títulos dos jornais de hoje. Um facto sem precedentes, uma vez que se trata do recuo da primeira lei de um governo recém-eleito. Os apelos de Pichetto para salvar o governo chegaram demasiado tarde. A lei é tão brutal que até os deputados dos governadores (os mesmos que aplicam o ajuste nas suas províncias) acabaram por recusar o apoio a uma grande parte dos seus artigos. Governadores “dialogantes” e que não têm nenhuma divergência real com o governo, mas todos defendem os grandes empresários e são contra os trabalhadores. Até a direitista Carolina Píparo votou contra um deles. A sorte estava lançada. O tudo ou nada falhou para a ultra-direita no governo.

Um jornalista da TN disse ontem à noite que “Milei está a arder”. Foi informado do resultado às três da manhã e começou a escrever um tweet acalorado. Estava em Israel, a apoiar o genocídio sionista contra o povo palestiniano.

Milei diz que “a casta se voltou contra a mudança que os argentinos votaram nas urnas”. É a mesma justificativa de sempre, mas que agora está a cair por terra. Em primeiro lugar, porque grande parte do que Milei chama de “casta” de políticos patronais, que vem atuando desde a ditadura até agora, juntou-se ao seu próprio governo. Em segundo lugar, porque embora milhões de pessoas, fartas do anterior governo, tenham votado erradamente em Milei acreditando que poderia haver uma mudança favorável, dois meses depois começam a ver que não. Muito pelo contrário. Milei redobrou o ajuste que o anterior governo de Alberto Fernández, Cristina e Massa já estava a aplicar.

Ontem, na televisão, assistimos ao repúdio popular do selvagem aumento de 250% dos transportes na Área Metropolitana de Buenos Aires. Os salários em dezembro baixaram 13% em termos reais. O próprio governo reconhece que a pobreza já atingiu os 50%. Estas são as consequências da estagflação anunciada por Milei ao serviço do FMI, ou seja, recessão com inflação desenfreada, alimentada pelo próprio governo, dando rédea solta à “liberdade de preços” e com tarifas ferozes, como vai acontecer com a eletricidade e o gás, com a sua consequente e inédita perda de salários e pensões em tão curto espaço de tempo.

A lei caiu no meio de uma crescente contestação social. Em 24 de janeiro, houve uma greve com uma grande mobilização que foi arrancada aos dirigentes da CGT. Um repúdio que tinha começado a 20 de dezembro, quando o sindicalismo combativo e a esquerda conquistaram a Praça de maio contra o protocolo repressivo de Bullrich. Seguiram-se panelaços de massas e a marcha da CGT até aos tribunais, a 27 de dezembro. Cresceram as assembleias de bairro, os espaços unitários nacionais como Unidos por la Cultura, houve diferentes medidas de luta em alguns locais de trabalho contra os despedimentos, contra os cortes nos caminhos-de-ferro pelo combativo corpo de delegados dos caminhos-de-ferro de Sarmiento, uma greve na Bridgestone contra os despedimentos, etc. Esta luta e a crescente agitação social foram essenciais para forçar o retrocesso da lei.

“A votação ou não da lei não vai mudar o rumo da economia”, disse o ministro da Economia pró-Macrista, Luis Caputo. Está claro. O governo não vai mudar. É por isso que temos de aproveitar o facto de esta derrota do governo revigorar a luta contra mais austeridade e repressão, mostrando que é possível vencer. Devemos continuar a luta contra qualquer tentativa do governo de voltar à lei omnibus, contra o estado de emergência e todo o plano motosserra, contra os cortes tarifários, os despedimentos e, fundamentalmente, por um aumento imediato dos salários e das pensões. Por tudo isso, devemos continuar a exigir da CGT e da CTA uma nova greve geral e um plano nacional de luta. A CGT desapareceu após a greve do dia 24, quando o Daer tinha dito “vamos continuar a luta”. A CGT não esteve nas jornadas decisivas em frente ao Congresso onde os lutadores e a esquerda repudiaram o início do tratamento da lei e sofreram a repressão. Desde cada local de trabalho, assembleia e marcha devemos continuar a fazer esta exigência.

Desde Izquierda Socialista saudamos os lutadores por este grande passo que demos. Reivindicamos o papel da Frente de Izquierda Unidad, com suas bancadas lutando no Congresso e nas ruas, enquanto o peronismo dava votos a Milei como o do povo de Tucumán, Scioli se unia ao governo e apenas alguns dirigentes sindicais do kirchnerismo participavam timidamente da manifestação de quinta-feira 1, mas sem chamar a uma forte mobilização para derrubar a lei. Chamamos a fortalecer a Frente de Esquerda com políticas unitárias, por um plano económico operário e popular, para romper com o FMI e deixar de pagar a dívida externa, e por um governo dos trabalhadores e da esquerda com uma Argentina socialista. Manter a guarda para continuar enfrentando o plano motosserra de Milei.

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